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Esse manifesto é fruto de céu estrelado

brotou no Cerrado de um tronco torcido

que afunda as raízes no tempo e na terra

no meio de uma guerra que nos considera vencidos,

 

Mas no mundo só existe o que se inventa

e nem quem mais tenta consegue apagar

o que o Cerrado brotou de bonito

a mata e o mito dos ritos de cá

Mateira

 

Substantivo feminino. Aquela que cuida, zela, cultiva as matas. Que se orienta bem em florestas e matas cerradas. Que serve de Guia. Que protege as matas profundas, encarregada de zelar pelas matas e florestas. Adjetivo feminino. Que vive na mata, o que, sem bússola, se orienta pelas matas. O Povo da Mata que abre caminho.

O Cerrado


Segundo maior bioma da América do Sul. A maior encruzilhada natural do mundo, uma ponte entre a Amazônia, a Caatinga, a Mata Atlântica e o Pantanal. É o elo entre esses ecossistemas e os alimenta com suas nascentes. O Cerrado é vital para a preservação de água do planeta. Carrega uma singularidade em suas árvores, as raízes podem ser muito mais extensas que as copas, o que faz com que o Cerrado seja reconhecido como uma "Floresta Invertida”. É um dos biomas mais antigos e biodiversos do planeta. Começou a se formar há pelo menos 40 milhões de anos e abriga centenas de espécies de animais e plantas que só existem aqui. Antes da chegada dos colonizadores, etnias como os Xavante, Krenak, Krahô, Xerente, Xacriabá, Karajá, Avá-Canoeiro, entre outros, já habitavam o Cerrado. Hoje, várias comunidades quilombolas pertencem a essa terra. Uma terra cheia de memórias, de habitantes encantados. E apesar de tudo disso, o Cerrado é devastado cinco vezes mais rápido que a própria Amazônia. Mais da metade de sua vegetação original já não existe e menos de 3% de suas áreas são efetivamente protegidas. O Agronegócio, com o aval de vários de nossos (des)governantes e com o serviço de (des)informação da grande mídia, vem devastando e destruindo o Cerrado, sem levar em consideração sua importância, sua diversidade, seus encantados e sua memória.

Brasília e A Revolta Mateira 

Brasília, o Brasil feminino. Começou a ser construída em 1956, quando começaram a chegar aqui gente de todo canto desse país. Em 21 de abril de 1960, a cidade é inaugurada. Uma verdadeira epopeia candanga. Uma monumental encruzilhada é erguida no meio do Cerrado. Mas a euforia, os sonhos e a modernidade esperada duram pouco tempo. Em 1964, um duro golpe de estado acontece no Brasil e, apesar das resistências, a cidade é tomada por um projeto de desencanto de mundo. Um projeto civilizatório decadente, sangrento e mortal. Desde então, sonhamos o voo interrompido, de uma cidade que tinha asas recém-paridas e que teve seu voo negado. Hoje, as cicatrizes permanecem e é cada vez maior a distância sentimental e econômica entre os moradores das áreas mais nobres da cidade e os que habitam as nossas regiões periféricas. 

Mas o que fazer para não afundarmos na política de desencanto do mundo? Precisamos assumir essa cidade. Engatilhar ações rebeldes contra o (des)envolvimento praticado por esse projeto colonial que abomina o nosso cruzo, a nossa diversidade. Aproveitar tudo o que essa cidade encruzilhada tem a nos oferecer. Como dizia o caboclo poeta TT Catalão: “a cidade dá a quem se doa”. É hora de se oferecer. É no fazer que descobrimos o Vir a Ser. 

Comece abraçando o Tempo, ele costuma se esconder dentro das árvores. Com ele, podemos atirar flechas mirando o passado para acertar o futuro. A luta de agora pede a sabedoria do ontem. Procure ouvir nossas Mestras e Mestres Populares. São eles os guardiões das nossas mais profundas memórias, de nossas verdadeiras histórias. Vivencie suas oralidades. Quando puder visite vossos terreiros. Existem vários grupos e brincantes espalhados por todos os cantos do Distrito Federal. Aprenda a cantar, jogar capoeira, botar figura, a tocar um instrumento. Dance. Quando dançamos, alteramos o Espaço. Quando tocamos, alteramos o Tempo. A batalha tem que ser afetiva e festiva, pois toda festa popular é uma reza. E precisamos rezar para os encantados dessa cidade. A festa, como a reza, potencializa o sentido da vida. 

É chegada a hora de nos AFROBETIZAR e estudar a ciência encantada dos PAJÉS. Instigar a nova TUPANdemia. Ler Graça Graúna, Ailton Krenak, Kaká Werá, Lia Minapoty, Daniel Munduruku, Davi Kopenawa, Conceição Evaristo, Luiz Antonio Simas, Milton Santos, Lélia Gonzalez, Abdias do Nascimento e tantos e tantas outras. É chegada a hora de lançarmos nossos corpos nessa encruza em busca desses encontros. Se você nasceu aqui ou foi adotado por essa cidade, você precisa ler Paulo Bertran, nosso Josué de Castro cerratense. Procure as poetas e os poetas da cidade, os mais experientes e os mais novos, pois precisamos politizar a poética e poetizar a política, devolver as palavras às vossas almas para que elas possam invadir os ventos e que eles possam nos assoviar novos futuros. Que possamos entender que o futuro começa agora e que ele sempre possa ser visto por meio de esperançosas e delirantes vertigens. Não tente PRE(VER) o que virá, o mundo é muito mais do que vemos. Muito menos tente determinar o futuro, isso só irá amarrá-lo. Nenhuma ideia de um futuro será boa se essa mesma ideia não puder ser mudada.

 

Viva o Cerrado carregando um sentimento de que aqui existe um espantoso Reino, cheio de encantados e cada ser que habita esse sagrado espaço carrega uma alma, mesmo que você não acredite em almas. Acredite nas Sereias e em tudo que não seja Sereia. Visite-as nas cachoeiras. Sinta a vida encarnada em cada flor, nas folhas, nas árvores, nos bichos, nos frutos, nos ventos, nas nuvens, nas pedras. Escute o Rio cantar encorajado pelas pedras. Entender a força que emana do Cerrado só é possível quando nos tornamos parte dele, quando percebemos que somos a própria Natureza. 

É nos momentos mais difíceis que nascem as mais incríveis utopias. O mundo não é esse todo sem jeito, o mundo ainda está pra ser feito. A Revolta está lançada. É hora da Mata invadir a cidade. É urgente inventar a cidade pra gente. Zelar por cada ser, por cada vida. A morte não é o fim, o desencanto, sim. 

Essa revolta deflagrada é inspirada no levante da Mata, acontecido há 60 anos nesse antigo chão. Rebelião comandada por Sinhá Laiá e narrada no Mito do Calango Voador e outras histórias do Cerrado. Mito brincado pelo Grupo Seu Estrelo e a Orquestra Alada Trovão da Mata. Grupos que fazem do Centro Tradicional de Invenção Cultural o vosso Terreiro.

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Revolta Mateira ComVida

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Ailton

Krenak

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